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“A humanização do atendimento é uma obrigação nas unidades de saúde que administramos”

O Jornal Opção publicou entrevista com o Dr. Sérgio Daher, superintendente da Agir – associada do Ibross – sobre a importância do modelo de OSS na saúde.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

 

“A humanização do atendimento é uma obrigação nas unidades de saúde que administramos”

Responsável pela administração do Crer, o Hugol e o HDS, superintendente executivo da OS Agir ressalta avanço nos hospitais públicos estaduais nos últimos 20 anos. Ele deixou de ser apenas destaque regional na área de ortopedia para se tornar também referência em gestão pública, como superintendente executivo da Associação Goiana de Integralização e Reabilitação (Agir). À frente da organização social (OS), Sérgio Daher é hoje o responsável pela administração de três unidades públicas de saúde do Estado: o Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), Hospital de Urgências Governador Otávio Lage (Hugol) e o Hospital de Dermatologia Sanitária e Reabilitação Santa Marta (HDS) — este erguido no que foi a antiga Colônia Santa Marta. Mais do que gerir, o médico tem uma história de vida com o Crer, construído sobre as ruínas do antigo Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho, de nenhuma boa lembrança. Ele esteve presente e ativo desde 2002, o ano da fundação da unidade de reabilitação que se tornaria centro de excelência e hoje tem o melhor conceito possível no índice da Organização Nacional de Acreditação (ONA), o grau ONA 3. Nesta entrevista ao Jornal Opção, Sérgio Daher explica que o próximo passo é também conseguir as credenciais de acreditação que medem a qualidade e a excelência das unidades hospitalares também para o Hugol e o HDS. “É um compromisso da Agir o de praticar uma medicina sempre mais humanizada. Quando mudamos de lugar na mesa, passando a ocupar o lado frágil, é que podemos perceber a necessidade de um atendimento com essas preocupações”, resume.

Elder Dias — O sr. é um dos maiores protagonistas da história do Crer e compõe a gestão da Agir, uma OS [organização social] que administra também outras duas unidades de saúde — o Hugol e o HDS, que corresponde à antiga Colônia Santa Marta. Como a entidade tem desempenhado suas funções?
A Agir começou seu trabalho com o Crer. Posteriormente, passou a administrar o HDS e, mais recentemente, o Hugol. São três hospitais muito importantes, com estruturas robustas. O Crer, costumo dizer, é uma pequena cidade. Transitam por ali a cada dia mais de 2 mil pessoas, em uma área de 33 mil metros quadrados. Acabamos nos tornando, assim, uma espécie de miniprefeitura, com problemas e desafios importantes, não é nenhum mar de rosas. O Hugol também é imenso, que hoje está com 330 leitos em pleno funcionamento — este ano, se Deus quiser, vamos alcançar a capacidade máxima, com 514 leitos em atividade. Uma estrutura grandiosa, com considerável número de colaboradores, e tem a característica de ser uma unidade de urgência e emergência. Isso muda completamente o perfil de administração, porque lidamos com situações de pronto atendimento, de resolutividade e agilidade. Eu diria que o Hugol é um hospital que sempre está “no fio da navalha”, porque precisamos ter um trabalho certeiro com uma rapidez fantástica.

Cezar Santos — A Agir é responsável também pelo HDS, que teve recentemente algumas obras interessantes. Como está sendo atuar nesse espaço?
Assumimos o HDS em 2013. Foi uma herança que recebemos, como sucessor da antiga Colônia Santa Marta. Têm um atendimento basicamente ambulatorial, também significativo — com um volume muito grande de pacientes — e os antigos moradores da colônia, que chamamos de residentes. Hoje eles estão em número de 20. Re­centemente inauguramos a chamada Resi­dên­cia Assistencial, onde essas pessoas estão agora acomodadas.

Cezar Santos — São pessoas afetadas pela hanseníase?
Sim, são sequelados por essa doença. Houve uma época em que a internação para essas pessoas era compulsória e, por isso, existiam as colônias. Esses moradores, a maioria sem família, foram ficando e se tornaram idosos e idosas. Em situação de abandono, há também traumas psicológicos significativos. Hoje, acomodados nas residências assistências, com certeza ganharam muito em dignidade. Construímos uma unidade com 23 apartamentos individuais, enfermaria, posto de enfermagem, refeitório. Isso resgata, como eu disse, a dignidade do ser humano, haja vista que, em outros tempos, essas pessoas eram alojadas em pavilhões, em conjunto, num ambiente nada saudável. Felizmente, os tempos mudaram.

Elder Dias — É um modelo que não existe mais…
Sim, a internação compulsória para tratamento da hanseníase foi finalizada há muitos anos. Tive a oportunidade de visitar uma antiga colônia para portadores de hanseníase em Campo Grande, a capital de Mato Grosso do Sul. Lá criaram um complexo hospitalar fantástico, que é o que, da mesma forma, está ocorrendo conosco. Ao assumir o HDS, havia uma situação muito precária, um ambiente físico de certa promiscuidade. Hoje isso mudou. Não temos internação ainda, mas temos esses moradores em residências dignas, um serviço ambulatorial extremamente robusto e importante, por exemplo, nas áreas de geriatria, infectologia, ortopedia, de dermatologia. As feridas crônicas — não só provenientes da hanseníase, mas também de problemas vasculares — são tratadas de modo adequado. Da mesma forma, há atendimento de psiquiatria, odontologia etc. Houve uma transformação fantástica no HDS. Por coincidência, tanto o HDS como o Crer têm um passado — e devemos respeitar a história, lembrá-la e entender a transformação necessária — com origens semelhantes: na área do Crer havia o Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho e o HDS, a Colônia Santa Marta e hoje passará a ter um complexo hospitalar fantástico.

Elder Dias — Em que consiste esse complexo? 
Tínhamos a missão de planejar uma unidade naquele local para dar atenção ao idoso e ao homem. Na verdade, teremos praticamente dois hospitais em um só: o Hospital do Idoso — que será chamado Dr. Nabyh Salum [médico e fundador da Faculdade de Medicina da UFG] — e o Hospital do Homem — que ganhará o nome de José Luiz Bittencourt [advogado, jornalista e vice-governador de Goiás entre 1975 e 1979]. São áreas importantes que estarão em um hospital de média complexidade. O projeto é de 36 mil metros, com 150 leitos, 30 leitos de UTI, 8 salas cirúrgicas. Enfim, é um hospital cuja modelagem está sendo planejada para atender ao idoso — o que é uma necessidade premente — e à saúde do homem. Acho que o governador Marconi acertou em cheio quando propôs a criação dessas unidades, que vão atender uma demanda intensa do Estado.

Elder Dias — Tendo essas três importantes unidades sob sua gestão, a Agir tem conseguido cumprir suas metas para todas?
As metas estão sendo cumpridas, mas o que nos faz ver positivamente a medição de nosso trabalho são os vários indicadores a que temos acesso e que constam do contrato de gestão com a Secretaria Estadual de Saúde. É preciso estar atento a todos eles. Um indicador que pode parecer banal, mas que, se tiver uma alta consistência, se torna da maior importância é o índice de satisfação da clientela externa. Veja, por exemplo, um hospital de urgências e emergências como o Hugol, que chega a ter 96% de aprovação: é um sinal de que estamos no caminho certo. O Crer é um hospital eletivo, já consolidado, e lá temos 100% de aprovação. Pode parecer conta de mentiroso, mas são os indicadores. Da mesma forma, no HDS temos 99% de índice de satisfação da clientela externa. Temos também outros índices importantes — de infecção, de mortalidade etc. — e também as acreditações. O Crer é o único hospital ONA 3 [índice de acreditação máximo da Organização Nacional de Acreditação (ONA), que certifica unidades de saúde] em Goiás, ou seja, um hospital público estadual com grau de excelência em acreditação hospitalar. Creio que seja um sinal de que estamos caminhando no rumo certo, ainda que com os problemas que existem. Sempre é preciso corrigir o percurso, mas, quando vemos o resultado do trabalho, temos a certeza de que realmente é consistente. Uma meta que tínhamos em 2002, na abertura do Crer, era fazer com que a população abraçasse a unidade e tivesse orgulho dela. Tenho convicção de que, ainda que não seja unanimidade, o que é impossível, os goianos entendem que o Crer é uma instituição de peso na área de saúde, não só para Goiânia, mas para todo o Estado. Isso nos dá muita satisfação. Nosso objetivo com relação ao Hugol continua sendo esse também. As pessoas entendem querem ir para o Hugol, o tem como referência, quando precisam de um atendimento de urgência ou emergência. Isso para nós é gratificante, mas também é um problema, porque não podemos assistir toda a população. O objetivo da Agir é manter esse trabalho e essa filosofia nos quais seus colaboradores trabalhem com segurança, tenham prazer no que fazem e estejam comprometidos com a instituição. É muito importante ter satisfação ao atuar em determinada empresa. Isso é fundamental para a Agir. Da mesma forma, é tão importante quanto isso trabalhar bem. A população precisa estar do nosso lado, sendo sua satisfação nosso melhor indicador. Queremos que nosso cliente saia sempre satisfeito.

Cezar Santos — O Crer inaugurou recentemente um centro de diagnóstico. Como essa nova ala vai ajudar nos trabalhos?
O Centro de Diagnóstico Dom Antônio Ribeiro de Oliveira [arcebispo de Goiânia de 1986 a 2002, que morreu no ano passado] abriu a terceira etapa de expansão do Crer. Dom Antônio foi uma pessoa da maior importância para a Agir, da qual era sócio fundador. Ele participou dos planejamentos e foi nosso presidente durante longos anos. Além disso, era um verdadeiro conselheiro. Era uma pessoa fantástica. Poucas pessoas podem dar testemunho do privilégio de conviver com um ser humano de uma grandiosidade tal qual era a de Dom Antônio. Quando tínhamos qualquer problema, eu ligava para ele, que então me chamava para ir até sua casa. Nós nos aconselhávamos muito com ele, que era sempre participativo nas ações da Agir e mostrava o caminho a seguir quando tínhamos algum desafio novo ou mesmo passávamos por nossas “brigas”, no bom sentido.

Elder Dias — Dom Antônio, então, não era um conselheiro “pró-forma”, como costumam ser nesses postos?
Pelo contrário, Dom Antônio foi sempre atuante, presente e determinado. Eu costumava dizer que ele era nosso “terapeuta espiritual”. E era mesmo, de fato, da maior importância para nós.

Elder Dias — O que esse novo centro de diagnóstico, ao qual Dom Antônio dá seu nome, significa para o Crer? Que “upgrade” a unidade terá com ele?
O Crer foi um hospital muito bem planejado. Até hoje, quem adentra à unidade observa que seus setores são muito bem distribuídos, com um fluxo hospitalar eficiente. Esse é um problema sério nas unidades de saúde. Imagine um local onde transitam mais de 2 mil pessoas por dia, é preciso ter um fluxo muito correto para isso. É preciso estabelecer algo como uma “linha de produção”, como as fábricas têm. É uma modelagem necessária, e o Crer a tem, justamente por ter sido muito bem planejado. Ocorre que, à medida que o hospital foi crescendo, tivemos de agrupar todo o setor de diagnóstico em uma determinada ala. Agora, toda a parte de diagnóstico está nesse novo centro, no qual também estão os setores de pesquisa e de ensino. O Crer, durante toda sua história, teve esse perfil. Nunca pensamos somente na parte assistencial, até porque esta, para ser boa, precisa estar alicerçada no ensino e na pesquisa, além do comprometimento de seus colaboradores. Sendo assim, temos um centro de estudos bastante atuante no Crer, além de várias residências médicas e trabalhos de área multiprofissional. Temos também um centro de pesquisas com algumas linhas de pesquisa em andamento e parcerias importantes com instituições nacionais e internacionais. Tudo isso agora está agrupado dentro do Centro de Diagnóstico Dom Antônio.

Cezar Santos — E o que foi feito do espaço que ocupavam as atividades que agora estão no centro de diagnóstico?
É lógico que há um certo aproveitamento e remanejamento. Estamos colocando mais alguns leitos no Crer, no espaço que foi desocupado. Um hospital é algo muito biológico, é como um rio que vai mudando seu curso aqui e ali. É preciso estar atento a essas mudanças para, pelo menos, continuar tentando acertar.

Elder Dias — O fluxo no Crer vai aumentar, com essa nova estrutura?
Com certeza. Porém, no momento, estamos tendo um problema sério de regulação em Goiânia. Não é nenhuma novidade, é algo que está na imprensa já há muito tempo. Como a capital tem gestão plena e houve recentemente uma mudança no sistema de regulação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), isso tem nos afetado substancialmente. As pessoas, às vezes, pedem para fazer um tratamento no Crer — ou no HDS ou no Hugol. O que é preciso ficar claro é que a porta de entrada para a vaga não é de nossa competência, não é nossa a decisão. Isso depende do sistema de regulação, que, se nunca foi excelente, está passando agora por um período crítico, conturbado, difícil. Em uma OS, é preciso atingir metas de produção e isso está difícil, porque os pacientes não chegam. E, vejam que paradoxo, a população precisa desse atendimento, a demanda existe. Outro aspecto é que, quando se monta um hospital, não há diferença em relação a outra empresa qualquer: há um custo fixo e um custo variável. O custo fixo é programado e planejado de acordo com a expectativa de demanda. Por exemplo, não tenho como fechar o laboratório de análises clínicas do Crer ou demitir alguns colaboradores temporariamente porque o número de exames caiu.

Elder Dias — E tudo isso ocorre por conta dos problemas de regulação…
Exatamente. Veja que fazer gestão na área de saúde, especialmente a hospitalar, tem uma complexidade, depende de vários fatores, inclusive externos, que dificultam o planejamento. Outro exemplo: temos de produzir “x” procedimentos num determinado mês. Eviden­temente, há um custo fixo para isso e um custo variável, dependendo da complexidade dos procedimentos ou, às vezes, de uma demanda maior ou menor, mas sempre dentro de uma faixa lógica. Acompanho a produção hospitalar diariamente. Não é preciso mais esperar o final da semana, ou do mês, ou até do semestre, como era antigamente. Por quê? Para corrigir o percurso. Só que ficamos de mãos amarradas porque o sistema de regulação não dá o retorno ou não tem a agilidade que deveria ter. Qual é a consequência? O sofrimento da população. Durante a inauguração da Residência Assistencial Santa Marta, eu tive a oportunidade de ressaltar — e acho que isso é um fato — que o Estado de Goiás investiu muito em saúde nos últimos anos. Se formos olhar os hospitais públicos estaduais que temos veremos que são unidades resolutivas, com uma eficiência significativa. Isso é um fato e a população tem de tirar proveito dessas unidades. Porém, ela está dependente do sistema de regulação, que é falho.

Elder Dias — Esse problema na regulação se agravou com as mudanças implantadas pela SMS?
Sim, se agravou a partir do 2º semestre do ano passado. O sistema de regulação de Goiânia ficou realmente muito complicado.

Elder Dias — Mas há uma negociação dos hospitais e de suas administrações com a secretaria?
De nossa parte, sim. Temos tudo documentado em atas. Procuramos sistematicamente a SMS buscando uma solução. E isso ainda estamos aguardando.

Cezar Santos — A Secretaria Estadual de Saúde (SES) também está à frente dessa discussão?
A SES cuida da regulação estadual. Ou seja, ela é responsável pela regulação do sistema em todo o Estado de Goiás. Essa situação de precariedade no sistema municipal da capital já foi exposta oficialmente para a SES. Acredito que devem estar buscando soluções. Na verdade, eu acredito muito na boa intenção das pessoas para solucionar problemas, especialmente na área de saúde. Talvez por ser minha área, vejo que não é possível que alguém queira o pior, não consigo ver dessa maneira. De qualquer forma, percebo alguns equívocos que precisam ser resolvidos — repito, não acho que isso ocorra por maldade de A, B ou C. São equívocos a ser corrigidos e, assim, levar a uma resolutividade. Os gestores precisam ter essa preocupação em fazer a operacionalização com maior rapidez.

Elder Dias — O sr. acredita, então, que as mudanças que foram feitas na regulação visavam a melhora do sistema, mas, infelizmente, o quadro piorou?
Acho que não conseguiram implantar todas as mudanças — ressalto que é uma percepção na base do achismo, o que ruim, ainda mais publicamente como estou fazendo aqui —, mas creio que haja uma intenção muito boa por parte deles. Só que o resultado não está aparecendo.

Elder Dias — O Crer recebe gente de outros municípios…
Mas de qualquer forma a regulação passa por Goiânia. Vou dar um exemplo: um paciente de Trindade precisa ser regulado pela Secretaria Municipal de Goiânia para poder ser atendido em qualquer hospital público da cidade.

Elder Dias — E isso mesmo para as unidades geridas pelo Estado?
Mesmo assim, porque, como eu disse, Goiânia tem gestão plena do SUS para os hospitais que estão no município. Na realidade, isso deveria funcionar de uma maneira muito simples, como ocorre com a compensação bancária. O município X, ao mandar o paciente para o município Y, deveria ressarcir o segundo após a regulação, porque o recurso é único. O que não consigo entender é que o maior bolo financeiro de manutenção e de custeio da saúde venha do governo federal, via Minis­té­rio da Saúde. Claro que os municípios e os Estados entram com sua por­centagem, mas, enfim, seria muito fácil fazer essa compensação. Só que aí aparecem questões de vaidade ou de política, que fogem de nossa compreensão e que tornam esse processo muito mais complexo e difícil.

Cezar Santos — Esses problemas são ainda mais espantosos nos dias atuais, quando tudo pode ser resolvido com um simples programa de computador.
Sim, hoje há tecnologia para resolver tudo muito facilmente. Por isso, também, creio que essa mudança na regulação, em algum tempo, dará resultado, porque, pelo que pudemos entender, há uma intenção lógica e muito boa. Só que isso precisa ser colocado em prática rapidamente. Vimos o que houve no Rio Grande Norte recentemente, quando uma greve da polícia causou um caos na segurança pública. Então, assim como não se pode criar buracos e gargalos na segurança, da mesma forma isso não pode ocorrer na saúde. Quando há qualquer atropelo na área da saúde, sofremos com as consequências. É preciso agilidade para encontrar soluções.

Cezar Santos — O senso comum diz que o grande público do Crer e de outras unidades que lidam com traumas e fisioterapia são condutores de motocicletas. Isso procede?
Certamente, é a realidade. Goiânia é uma cidade onde há um número muito grande de motocicletas e não adianta tapar o sol com a peneira: nosso trânsito é caótico, a educação é precária, no sentido de ter um trânsito mais humanizado. Evidentemente, a consequência são os acidentes, tanto na zona urbana como nas rodovias. Vou passar uma estimativa: temos quase 200 atendimentos por dia na área de urgência e emergência do Hugol. Ora, é algo muito significativo. O volume de atendimento é muito grande.

Elder Dias — São 200 atendimentos diários só no Hugol?
Sim, e lá temos uma preocupação muito grande com essas estatísticas do trânsito. Talvez a população não tenha conhecimento, mas realizamos alguns eventos educativos nesse âmbito. Um deles é o Pare, que é feito sistematicamente por nossos colaboradores nas principais rodovias, com relação aos cuidados que se deve ter no trânsito. Qual é a importância disso? Diminuir o número de acidentes e, consequentemente, estabelecer uma ação preventiva extramuros por parte do hospital. Outra ação da maior importância é o Hugol nas Escolas, uma atividade que leva o conhecimento sobre o hospital às comunidades, especialmente na região noroeste [onde está localizado o Hugol]. Realizamos também eventos sistemáticos, que já entraram para nosso calendário, não é algo esporádico.

Elder Dias — O custo do paciente de trauma é geralmente muito alto…
É outra situação para a qual não adianta tapar o sol com a peneira: o custo da saúde, de uma maneira geral, é alto. Se pudermos ter ações preventivas, vamos diminuir muito o gasto, não tenha dúvida. Um paciente politraumatizado gera um custo diário altíssimo, porque implica atendimento multidisciplinar, de várias especialidades médicas, cuidados de UTI, cuidados cirúrgicos, além de uma possível sequela, essa um prejuízo que não tem como calcular.

Elder Dias — E o sr., como gestor do Hugol e do Crer, em várias ocasiões, acaba tendo o mesmo caso duas vezes.
É fato. Se pensar bem, uma grande parte dos nossos pacientes no Hugol é encaminhada para reabilitação no Crer, visando o tratamento de sequelas.

Elder Dias — Ampliando a discussão, quando se fala em SUS [Sistema Único de Saúde], há sempre uma visão negativa, enquanto é apenas o exemplo de como o Brasil não se consegue implantar boas ideias. 
Sim, até porque, de maneira geral, o SUS é um projeto fantástico.

Elder Dias — Mas o que falta para o SUS funcionar de fato?
Trazendo para a realidade de Goiás, façamos uma análise do que eram 20 anos atrás e do que são hoje os hospitais públicos. O investimento que o governador Marconi fez na área de saúde, especialmente nas unidades públicas, foi algo muito significativo. Ele conseguiu transformar a saúde do Estado em algo que conseguiu maior resolutividade com muito mais economia. Então, é possível. Quando falamos que o SUS é fantástico em teoria, mas não na prática, vejo que isso se dá não por falta de recursos, mas por falta de uma ação administrativa mais ética, mais consistente, para que as coisas possam entrar em um caminho de equilíbrio. Nunca vamos atingir a perfeição nem a unanimidade na saúde, mas é possível melhorar muito. Se tivéssemos um atendimento regionalizado de alta e média complexidade, aliado a um atendimento primário bem realizado, com certeza a população teria um benefício muito maior sendo assistida pelo SUS. Vejo que isso é possível, sim. Por que isso não se consolida na prática, aí já é uma outra história.

 

Cezar Santos — Se o SUS é um sistema único, não faltaria ao governo federal fazer um planejamento mais rigoroso?
Se nós formos listar aqui os equívocos existentes na saúde em relação aos governantes e aos gestores em geral, vamos ver uma série de pontos que inevitavelmente teriam de ser melhorados, a começar pelo aporte de recursos financeiros, passando por ações administrativas para contenção de despesas, de redução do desperdício, planejamento, questões educativas e preventivas, entre muitas outras coisas. O que fica então evidenciado? Que existe uma falta de compromisso em resolver o problema da saúde. A Agir participa do Ibross [Instituto Brasileiro das Organiza­ções Sociais de Saúde] e temos reuniões pelo Brasil todo com outras associações. Recentemente, temos visto o Rio de Janeiro, que é um Estado rico, passar por uma situação de calamidade na área de saúde. Nem vamos falar de outros lugares, mas lá é um verdadeiro absurdo, porque décadas atrás o Rio era exemplo para todos nós. Tinha hospitais fantásticos e uma saúde pública de referência, o que hoje acabou.

Cezar Santos — Até porque era um Estado que sempre teve muito recurso à disposição.
Exatamente. Quarenta anos atrás, meu sonho era ir para o Rio de Janeiro, fazer uma especialidade, porque lá era o local que tinha recursos do governo federal. Era algo fantástico, mas como deixaram isso acabar? É uma pergunta. Claro que precisa de mais recursos, de uma política mais ética, de diminuir a corrupção — a corrupção tem é de acabar, na verdade. Precisa de muita coisa. Mas por que isso não acontece? Porque as pessoas que estão à frente do processo não têm essa vontade, estão pensando nelas próprias e não na população.

Cezar Santos — Uma matéria na TV esses dias mostrou que, nos últimos anos, o governo federal construiu vários Cais [centros de assistência integral à saúde], mas eles estão fechados. Ou seja, desperdício de dinheiro em duas pontas: na construção e no não funcionamento.
Na área da saúde, especificamente, eu costumo dizer que construir hospital é fácil: pega um volume de dinheiro, ergue as paredes e pronto. O problema é a manutenção do hospital.

Elder Dias — Um hospital é mais caro depois de já construído.
Exato, você falou muito bem. É preciso ter muito planejamento, saber regionalizar a saúde, não fazer unidades que acabem sendo conflitantes ou sobrepostas. É preciso que haja esse plano para que o custo não seja mais alto que o necessário e que o desperdício não ocorra. Isso se vê pelo mundo inteiro, em países desenvolvidos. O que falta é vontade política, determinação em solucionar os problemas.

Cezar Santos — Uma construção de um hospital é muito interessante para certos políticos. Basta conseguir a obra por uma construtora amiga e então receber as comissões para o caixa 2 da campanha eleitoral.
Essas são questões realmente lamentáveis. Mas o fato é que, se o sistema passar por um planejamento, se isso for colocado em prática, podemos ter uma saúde pública muito melhor, ainda que não perfeita. Quando se fala em custo da saúde, nossa Constituição fala que ela é um dever do Estado e um direito do cidadão. Até que ponto isso é verdadeiro ou viável? São coisas que, quando eu escrevo, o papel aceita. Mas, e a realidade? Será que alguém consegue ofertar saúde para toda a população de graça?

Elder Dias — Outro ponto é tirar o dever do cidadão de zelar pela saúde. 
Qual é o compromisso do cidadão perante uma situação como essa? Como sempre, tudo acaba caindo na questão ética. Hoje vemos, infelizmente, todos querendo tirar proveito — políticos, empresas etc. —, mas a própria população parece também fazer o mesmo.

Cezar Santos — O indivíduo que é displicente com a própria saúde também deixa de fazer sua parte, não?
Sim, vemos isso em todas as áreas. É um processo muito genérico.

Elder Dias — Existe algo que o sr. possa destacar e que materialize o modo de gestão da Agir em suas unidades?
É importante reafirmar a filosofia de trabalho da Agir. Temos sempre a preocupação de fazer o melhor. Veja o caso do Hugol, que é um hospital “recém-nascido” e que já tem tanta coisa fantástica a mostrar para a população. Recentemente, o Ministério da Saúde escolheu cinco hospitais pelo País para poder acompanhar e fazer uma consultoria na área de urgência e emergência, por meio de uma instituição respeitabilíssima, que é o Hospital Sírio-Libanês. O Hugol ficou, de longe, com o 1º lugar nos resultados do projeto [chamado Excelência Operacional nas Emergências do SUS], que se baseava em itens como resolutividade, agilidade, redução de desperdício. Isso foi implantado no fim de 2017, tendo o Hugol se apresentando como o melhor entre todos os hospitais que participaram. Isso é fantástico e demonstra nossa preocupação com a gestão e com o desafio de tentar melhorar sempre. Esse projeto teve um aspecto muito interessante, porque conseguimos praticamente acabar com as filas no Hugol. É algo de linha de produção, como um chão de fábrica, o que trouxe muita agilidade e resolutividade ao processo, mas, melhor do que isso, um aumento em nossa eficiência e na qualidade do serviço ao cidadão.

Elder Dias — O projeto foi baseado em algo que já ocorria em outras unidades?
É um modelo bastante conhecido, que foi implantado primeiramente em fábricas, como a Toyota, e que passou a ser utilizado em hospitais de todo o mundo, como nos Estados Unidos. É um sistema que chamou a atenção e que o Ministério da Saúde achou por bem chamar consultores do Sírio-Libanês para fazer a implantação. Nosso resultado foi realmente gratificante e estamos tentando expandi-lo para outros setores do Hugol e também para nossas outras unidades.O sistema de acreditação hospitalar é algo com que nos preocupamos muito, porque reflete nossa qualidade. Assim como chegamos ao nível máximo de acreditação do Crer, estamos igualmente trabalhando para alcançar o mesmo com o Hugol. O fundamental, acima de tudo, é a preocupação de praticar uma medicina humanizada. A humanização é uma obrigação nossa, porque, quando mudamos de lugar na mesa, passando a ocupar o lado frágil, é que podemos perceber a necessidade de um atendimento com essas preocupações.

Cezar Santos — O sr. é um ortopedista muito conceituado. O que as pessoas poderiam fazer — mas deixam de fazer — para evitar problemas futuros, como as terríveis hérnias de disco?
Atividade física é fundamental. Hoje em dia, ficamos sentados muito tempo em frente ao computador. Cirurgia é só em último caso, apesar de que hoje os procedimentos cirúrgicos, de maneira geral, são muito mais seguros. Porém, podendo ter um tratamento mais conservador é muito melhor, em todos os aspectos.

Elder Dias — Assim como há uma idade a partir da qual é altamente recomendável um check-up cardiológico, existe também algo assim como um check-up ortopédico?
Não posso ser corporativista e dizer que deveria haver um check-up ortopédico a partir de determinada idade, mas considero prudente que se faça um a partir do momento em que, por exemplo, vá iniciar uma atividade física ou apresente algum sinal de dor contínua. Proceder dessa forma contribui para que não se tenha um desgaste precoce.

Elder Dias — Mas existe na prática um check-up na área de ortopedia?
A partir do momento em que a pessoa está assintomática, mas quer começar uma atividade física, é muito recomendado que faça, além dos exames clínicos e cardiológicos — que são fundamentais —, também uma série de exames da estrutura corporal.

Cezar Santos — É importante ter atenção à densidade dos ossos?
A densidade óssea é mais preocupante no sexo feminino, por causa do desequilíbrio hormonal com a menopausa, que leva à descalcificação. O homem não passa por isso e, se tem um problema nesse sentido, é preciso buscar causas mais sérias, mais robustas, porque não é fisiologicamente natural que ele passe por isso.

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