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UFRJ rejeitou US$ 80 milhões para reforma do Museu Nacional porque a condição era torná-lo uma OS

O Museu Nacional, tomado por um incêndio de grandes proporções que destruiu parte do acervo, de cerca de 20 milhões de itens, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio de Janeiro, no último domingo (2/9), recebeu, há pouco mais de 20 anos, uma proposta de US$ 80 milhões do Banco Mundial para uma reforma de modernização com a única condição de que houvesse um modelo de governança moderno, com conselho e participação da sociedade civil, ou seja, transformá-lo numa Organização Social (OS), associação privada sem fins lucrativos que presta serviços de interesse público.

De acordo com o artigo publicado no Brazil Journal, o dinheiro nunca saiu dos cofres do banco. O projeto foi vetado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que rejeitou a única condição imposta pelo banco, entregar o controle do museu e torná-lo uma OS.

Na época, o empresário e ex-prefeito do Rio, Israel Klabin, foi quem obteve recursos no exterior para custear a reforma da instituição. Hoje, prestes a completar 92 anos lamenta a tragédia. “Esse incêndio é fruto de um modelo arcaico de governança que não permite a modernização do país. Um funcionalismo que olha o Brasil de forma cartorial e funciona para si mesmo […] Vai acontecer a mesma coisa várias outras instituições herdadas por um governo incapaz e ineficiente. Estamos vivendo em um estado cartorial. O Brasil inteiro nas mãos de governos ineficientes cuja gestão é sempre politizada”, disse Klabin.

Ontem (4/9), o Governo Feral anunciou medidas para reconstruir o Museu Nacional e propôs mudanças na gestão de outras instituições.

O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, defendeu mudanças no modelo de gestão dos museus federais, que passariam a ser administrados por organizações sociais. “A ideia é que nós possamos nos dedicar a elaboração de uma proposição legislativa relacionada a esse assunto, ou seja, para a adoção de OSs no âmbito do governo federal. O modelo por OS permite que você possa ter captação de recursos de outras fontes e a redução da dependência do orçamento estatal, do orçamento da União”, disse Leitão.

Assista: https://globoplay.globo.com/v/6996748/

 

Leia na íntegra o artigo do Brazil Journal:

Como um plano para salvar o Museu Nacional fracassou

Na raiz do problema, a governança

Mariana Barbosa

Há pouco mais de 20 anos, o empresário Israel Klabin conseguiu um cheque de US$ 80 milhões do Banco Mundial para reformar e modernizar o Museu Nacional.

Um time de voluntários chegou a se formar para trabalhar num pré-projeto de reforma para apresentar ao banco.

“Era uma modernização enorme. E a única condição imposta pelo Banco Mundial para liberar os US$ 80 milhões era que houvesse um modelo de governança moderno, com conselho e participação da sociedade civil,” Klabin disse ao Brazil Journal.

O dinheiro nunca saiu dos cofres do banco. O projeto foi vetado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que rejeitou a única condição imposta pelo banco: entregar o controle do museu e transformá-lo numa Organização Social (OS), uma associação privada sem fins lucrativos que presta serviços de interesse público.

“Os professores e membros influentes da UFRJ foram contra,” Klabin disse esta tarde, enquanto funcionários retiravam o que sobrou do incêndio que devastou o mais antigo e importante museu do país.

A reforma nunca realizada seria a primeira de uma vice-presidência para assuntos culturais que James Wolfensohn, o então presidente do Banco Mundial, acabara de criar em 1995.

Wolfensohn era grande amigo de Klabin, que além de ser um dos herdeiros da companhia homônima é um respeitado ambientalista, ex-prefeito do Rio de Janeiro (1979-80) e ex-aluno da UFRJ. (Klabin formou-se em engenharia civil e matemática quando a UFRJ ainda era a Universidade do Brasil.)

Prestes a completar 92 anos, Klabin, naturalmente calmo e educado, compartilhava a revolta do País com a tragédia. “Esse incêndio é fruto de um modelo arcaico de governança que não permite a modernização do país. Um funcionalismo que olha o Brasil de forma cartorial e funciona para si mesmo.”

“Isso me fez ficar com raiva do Brasil. Sabe o que vai acontecer agora? Vai acontecer a mesma coisa com o Jardim Botânico, com a Biblioteca Nacional, com o prédio do Ministério da Educação (Edifício Gustavo Capanema, projetado por um time de arquitetos liderados por Le Corbusier) e várias outras instituições herdadas por um governo incapaz e ineficiente. Estamos vivendo em um estado cartorial. O Brasil inteiro nas mãos de governos ineficientes cuja gestão é sempre politizada.”

Fonte: https://braziljournal.com/como-um-plano-para-salvar-o-museu-nacional-fracassou

 

Leia mais:

Museu Nacional teve proposta de US$ 80 milhões do Banco Mundial

Reforma foi rejeitada pela UFRJ há cerca de 20 anos, pois implicava em transformar a instituição em fundação de direito privado

Por O Globo

RIO — O Museu Nacional chegou perto de deixar o chapéu da UFRJ há cerca de 20 anos. Na época, Israel Klabin, ex-prefeito do Rio e do grupo de papel e celulose que leva o nome da família, obteve recursos no exterior para custear a reforma da instituição, segundo o sociólogo Simon Schwartzman, ex-presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets).

Ontem, um dia após o incêndio no museu, Schwartzman publicou um relato em sua página no Facebook sobre o episódio. “Lembro que uns 20 anos atrás houve projeto de transformar o museu em uma fundação de direito privado e conseguir recursos privados nacionais e internacionais para dar a ele as condições de preservação e funcionamento compatíveis com a importância do prédio e do acervo. Não foi possível, porque isto significaria retirá-lo da UFRJ, que nunca teve condições de gerenciar um museu deste porte, mas não abria mão de seu controle”, escreveu ele.

Schwartzman, que está fora do país, explicou que ouviu do próprio Klabin sobre o projeto. O empresário — formado em engenharia civil e matemática pela Universidade do Brasil, hoje UFRJ — teria obtido US$ 80 milhões junto ao Banco Mundial para financiar a reforma do Museu Nacional, informou o site “Brazil Journal”.

A instituição financeira, contudo, impunha como condição à liberação dos recursos que o museu tivesse gestão independente. A ideia era transformá-lo em organização social, entidade privada sem fins lucrativos que recebe subvenção do estado para prestar serviços de interesse público. “O problema não é privatizar ou não, mas a cultura de gerência profissional e responsável pelo patrimônio público, ou sua ausência”, ponderou o sociólogo sobre o Museu Nacional.

Procurados, a UFRJ e o Museu Nacional não responderam até o fechamento desta edição. Israel Klabin não atendeu o GLOBO.

O projeto de restauração do Museu Nacional, de R$ 21 milhões, teve que ser refeito, a pedido do BNDES, porque não previa um item obrigatório para a segurança do acervo: um sistema de prevenção e combate a incêndios. A revelação foi feita ontem pelo jornalista Lauro Jardim.

Em seu relatório de análise, o banco afirmou que o projeto original estava “irregular” por falta de licenças do Corpo de Bombeiros. A UFRJ teve que reformular a proposta e obter novas aprovações no Ministério da Cultura. Em junho deste ano, a nova versão do projeto foi finalmente aprovada, mas o dinheiro não foi liberado.

Ontem, em São Paulo, o presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, atribuiu à legislação eleitoral a razão pelo qual os recursos ainda não tinham sido disponibilizados. Ele afirmou que a análise jurídica deve ser concluída o mais rapidamente possível, e BNDES poderá até aumentar o valor destinado ao museu.

Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/museu-nacional-teve-proposta-de-us-80-milhoes-do-banco-mundial-23036407

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